sexta-feira, dezembro 08, 2006

Moonchild em Braga, excelente concerto


John Zorn coloca demónios à solta


É no mínimo irónico usar palavras para descrever um acto que não teve palavras. A verdade é que o reencontro do compositor John Zorn com o vocalista dos Faith No More, Mike Patton, é todo ele baseado em sons - guturais ou angelicais, graves e agudos - impregnados com o 'speed' constante da bateria de Joey Baron e da guitarra de Trevor Dunn.

O Theatro Circo, em Braga, assistiu a uma invocação de espíritos para uma luta de demónios, que só podem trajar de preto, de um Mike Patton verdadeiramente possuído. O grito de um espectador, no início e com tudo em silêncio - "Mike is God" -, era um prenúncio para o ritual espírita que se seguiria. Com Zorn a assumir uma função exclusiva de maestro e desenhador de som (colocou-se atrás da mesa de mistura no fundo da plateia), coube ao trio de velhos conhecidos de outras andanças (Mr. Bungle) a tarefa de fundir sons hipnóticos, idiomas inteligíveis e climas sombrios de que o álbum "Moonchild" dá pálida ideia.Aos 45 minutos de concerto acrescentaram-se 15 minutos de encore, dominados por um longuíssimo solo à capella de Patton, no qual o cantor emite tudo o que é som possível de ser feito com as cordas vocais - e que o obrigou, inclusive, a cuspir para o chão para limpar a garganta.

Para ajudar à cerimónia ritualista, cabe a Zorn transformar os sons, umas vezes mais metálicos outras mais duros que iam saindo dos três instrumentos. O esforço pedido a Mike Patton, neste concerto, pode ser uma das justificações para a curta digressão apenas sete datas europeias.